terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O Menino do Morro do Alemão

O MENINO DO MORRO DO ALEMÃO


Antonio de Pádua Silva Souza

Escute Papai Noel o que tenho pra dizer:

Para ser bem sincero nunca gostei de você.

E tenho cá minhas razões: Olhe que o ano todo em todas minhas orações peço para o Natal não demorar a chegar, pois vieram me falar que é nesta noite de luz e a mando de Jesus, que o senhor vai visitar crianças no mundo inteiro.

Não para dá dinheiro, mas distribuir presentes àquelas que têm saúde, a todas que estão doentes, às que não podem comprar pra quando o Natal chegar, elas alegres, contentes tenham com o que brincar.

E quando chegava o Natal era aquela animação e o senhor não imagina qual a minha emoção: deitava, dormia cedo não ia pra rua brigar só pensando no brinquedo que o Senhor vinha deixar. E quando a manhã chegava mesmo sem poder ver no escuro eu levantava.

Corria os pés pelo chão e com nada encontrava saia batendo a mão, só meu chinelo eu achava e na poeira do chão o presente não estava. Que grande decepção

Eu sentia naquela hora, nem carro, nem roupa, nem bola, nem pistola, nem peão.

Noutra Noite de Natal, estava quase dormido, quando ouvi as explosões. Eram fogos de artifícios, eram tiros de rojões e fiquei a imaginar.... deve ser Papai Noel que acaba de chegar, veio deixar o meu presente, desta vez eu vou ganhar.

De repente, minha mãe deitou-se comigo no chão. Não eram fogos de artifícios, eram tiros de canhões, eram os homens do tráfico, disputando posições. Triste, pensei comigo: com este bando de tiro Papai Noel não vem não.

Agora está tudo mudado e outro Natal vai chegar, mas p morro está ocupado; É soldado por todo lugar.
O mal é que estes fardados tanto podem ser do bem, como do mal podem ser. O difícil é se saber de qual facção eles vêm. Se do bem, que bem que seja, pois do mal, nada se espera e o morro nesta peleja fFique pior do que era.

Então meu Papai Noel, o Senhor pode chegar e não haverá tiroteio, osenhor pode entrar. Assim, ao amanhecer, possa eu até mudar o que penso de você. Meu barraco é o mais feio e é  fácil identificar. Lá no final da ladeira, antes de o morro findar perto daquela pedreira de onde se avista o mar.

Se o Senhor não vier, não tem desculpa a dar, só não vem se não quiser ou então pra confirmar: Que criança da favela, hoje comunidade, não tem o mesmo valor das crianças da cidade; ou o senhor tem preconceito e  por birra ou por maldade, nega-nos este direito, que é justo e natural:
De receber um presente numa noite de Natal.

Dezembro 2010

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